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Programas e Filmes

Programa 9 - Sol Negro

“Eu sei que não sou formado de enxofre e sal, não estou enterrado em estrume, putrefazendo ou congelando, ficando branco ou verde ou amarelo, cercado por uma serpente que morde o seu rabo, elevando-me em asas. E todavia, eu sou!”  

James Hillman

Gaelle Rouard retoma a ideia do nigredo, o preto mais preto da alquimia, que de tão preto, reluz com uma luminescência escura, que brilha como nenhuma outra cor. Seu trabalho poderia ser confundido com uma espécie de bruxaria, uma magia que faz emergir uma luz fabulosa, que contorna o mundo, lhe dá cores que jamais ousamos imaginar. Mas é alquimia. Uma alquimia que materializa um novo mundo, numa aventura mito-alquímica-poética que nos recobra algo que desde muito tempo nos foi amputado: a possibilidade de imaginar.

Escuridão Flamejante / Darkness, Darkness Burning Bright

Gaëlle Rouard
2022 | 73 | DCP | Colorido

Primeira parte - Prelúdio

"Escuridão, escuridão, ardendo em chamas
Nas florestas da noite
Vastos caminhos floridos, galhos frescos
Bosques cheios de perfumes, pássaros e sussurros,
Um lugar tantas vezes visto e eternamente contemplado
Vento que gorgoleja no fundo das chaminés por meses, horas e dias....
Nas janelas onde um belo e límpido raio quer se iluminar,

Tantos raios que chegarão tarde demais! coroados
De alegria e flores, no trigo.
Vento que gorgoleja no fundo das chaminés por meses, horas e anos....
A lua, o sol, o céu e as estrelas
Ali, mugindo uma boiada com olhos sombrios
Para que, imersos em sua doçura e em sua oração
Mais límpidos e mais bem tratados, são reconduzidos.
Para aqueles que os vêem nus e sem véus,
A lua, o sol, o céu e as estrelas!"

Segunda parte - Oração

"Escuridão, escuridão, ardendo em chamas
Nas florestas da noite
O impulso louco dessa alma perturbada,
Na fronte circundada de cobre, sob a lua
Ó morte misteriosa, ó irmã de caridade.
Que alma deveria ser levada nesta floresta antiga"
Que vai, escalando as montanhas, para o céu, para a tempestade,
Grande noite!

Santuário de segredos de agosto
Ancestral do antigo mar e da floresta
Ervas frágeis, galhos tenros, malvas-rosa,
Sombra que roça e vento que enlaça,
E fortemente, com os punhos de suas nuvens,
No horizonte esverdeado, esmaga os sóis.