"O cinema é o que se vê além do filme. O cinema esconde o filme e o filme esconde o cinema. O que você não vê é o que é. Claro que ninguém vai ao cinema pra não ver nada. Mas é o nada que interessa"
Júlio Bressane (Cinemateca do MAM, julho de 2023).
A longa viagem do ônibus amarelo é, entre outras coisas, a possibilidade de um cineasta narrar-se dentro da própria linguagem sem que seja necessário qualquer limite biográfico ou autobiográfico. É dele a ideia de que a repetição é Deus. Misturando imagens de dezenas de filmes, associando uma experiência a outra, os filmes aos filmes, os filmes as pessoas, as pessoas as pessoas, com registros de bastidores até bordas mesmo da vida, num trabalho de restauração e preservação com a Cinemateca do MAM (onde recolhemos palavras do mestre), Bressane nos "deforma" com o seu amor pelo cinema. Ele mesmo disse: "(...) eu estou aqui apresentando esse filme porque o cinema me deformou, se vocês permanecerem aqui para assistí-lo é porque vocês também foram deformados pelo cinema". Mekas com certeza é uma das poucas pessoas que chegou nisso. Mas o que importa? Temos Bressane! Nosso xamã. E temos Rodrigo, o montador-escritor dessa vida-comum de cinema.
Júlio Bressane se volta ao passado, refletindo sobre sua carreira profissional enquanto edita imagens produzidas por ele durante seis décadas em um longo fluxo de consciência. Nesse filme, ele destaca suas questões e obsessões, que se revelam como elementos de sua teoria particular do cinema e da vida.
